Divagação
DIVAGAÇÃO
Era uma terra linda
A minha terra;
Tinha praias belas,
Batucadas ao luar
Cheias de encanto e poesia…
O pôr-do-sol, era um fenómeno
Que nos prendia.
As aves às seis da manhã
Iniciavam o seu chilrear,
Cantando o tempo, ao vento
Sem parar,
Vivendo a alegria infinita
Sob aquele belo céu sem nuvens…
Era uma terra linda,
A minha terra!
Tinha lavras de mandioca,
De ginguba, milheirais,
Embondeiros seculares,
Rios límpidos como espelhos,
Caça e pesca abundante,
E o luar? Oh! Como era belo,
O luar da minha terra!
Lá longe, na minha terra,
Eu vivia feliz e contente
Entre os meus colegas de escola
Que eram de raça diferente,
Mas que importava isso,
Eram de carne, eram gente
E juntos brincávamos amigos
Correndo os mesmos perigos,
Lá na minha terra…
Trepávamos ao cajueiro
A ver quem colhia primeiro
Aquele caju amarelo…
Fazíamos ratoeiras
Para apanhar passaritos,
Que depois de depenados,
Bem temperados e assados,
Comíamos alegremente,
Sentados na esteira
Ou na terra…
Algumas vezes íamos à pesca,
A ponte da capitania
Era a nossa atracção…
Apanhávamos tainhas,
Peixe-agulha, roncadores,
E lá vínhamos armados
Em grandes pescadores.
Era assim na minha terra!
Mas um dia eu parti:
Tive que partir…
A minha terra já não era linda,
As praias eram desertas,
O sol perdera o encanto,
O luar perdera a sua beleza
E eu era diferente.
Tinha medo dos meus amigos,
Os meus amigos,
Tinham medo de mim.
As noites de luar,
Deram lugar
Às noites de fogo, de guerra,
Os dias eram longos, angustiosos,
Tudo era frio, diferente,
Gente fugindo de tudo,
Tudo fugindo da gente…
Porém há algo que não mudou,
Dentro de mim, do meu ser;
Apesar da fome, miséria e guerra
É esta saudade enorme,
Que hora a hora me consome:
É o grande amor que eu sinto,
Dentro em mim pela minha terra!