pobre observador...

Caos e Ordem são apenas palavras em um discurso tautológico. Observe a natureza tomar vulto diante de você e verá um poder que as linguagens não possuem, ocupadas com jogos autoparadoxais de regras prefixadas há éons.A Lógica não permite qualquer intimidade, e os sentimentos de felicidade e auto-realização estão dialeticamente mortos. Tudo o que não está nos extremos está morto para ela. É, com efeito, alcançar o supremo egoísmo, a ubiqüidade do Ego, a heterofobia divina e univalente. Conceitos são apenas preceitos, uma enorme e pretextuosa ameaça que intenta tomar o véu de Maya, usurpá-lo e nos transmitir sua vacuidade, de uma anterioridade tão extremada que até a Eternidade diante dela careceria de sentido. O oco de viver na perseidade.

Começa a chover. A pouco e pouco as perspectivas invertem e as aparências da natureza dão lugar a pequenos pensamentos que flutuam juntos, graciosamente articulados em redor de móbiles que a tua mente cria, sem se dar conta.Ó, POBRE OSERVADOR.A realidade dissimula e constrói a partir de ínfimos detalhes um cosmo sempre atualizado e envolvente. Ela te rouba e você não vê. O novo é o velho reposicionado, um quebra-cabeças retirado da Tua cabeça para manter para sempre a Ilusão da interfusão de todas as coisas. Você conhece a sensação de ser a todo tempo beijado sem saber, indefeso contra os ataques da natureza elemental, a melhor amante que poderia existir?Não, você é só humano, não tem interesse algum em se questionar sobre aquilo que é imediato. O futuro, o desejo, os ideais...perdem-se em contato com a coisa-em-si, a sensação de sonho dentro do sonho!Loucas, as correntes da vida se interlaçam criando apenas um maelstrom transitório. Enquanto isso, as verdadeiras fontes quentes do oceano permanecem ocultas, e alimentam incessantemente os moinhos primais do Caos e da Ordem...que moem silenciosamente naquela paisagem distante e feérica bem familiar a você e de onde partirão os cavaleiros da Criação.

Se as tumbas do apocalipse se abrissem agora, nos encontrariam rezando diante de cadáveres de deuses mortos- uma visão tão triste quanto um arco-íris cinza. A tradição comprime nossas cabeças, a fé é ao mesmo tempo a flor e o espinho, e regressamos aos poços vazios de nossos sonhos.

Filicio Albara
Enviado por Filicio Albara em 26/04/2009
Código do texto: T1560448
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