Eu mesmo
Já tive fome, e ao contrário de comida encontrei úlceras cortantes. Já carreguei bancos, bancas, caixas, só pra comer ao fim dum dia. Mas a areia, a maresia, o ribombar das ondas, só serviam como instrumentos que numa harmônica junção sinfônica, mantinha todo aquele cenário infernal. Havia piolhos, ratos, um cão sarnento fiel no terraço e outro morto a feder no quintal. Havia irmão, irmã, mãe. Éramos quatro-1. Éramos o que somos. Período de meninices e risadas, que mesmo forçadas, faziam das noites o dia que hoje sonho ter. Quantas frutas furtadas. Quanta água emprestada. Quanta mágoa guardada, entrelaçada aos sentimentos mais rancorosos que, se sobremaneira amargos foram, era devido à ausência de uma doçura fraternal. Acostumei-me. Vivo do inferno para o inferno, e neste céu azul-celeste-fogo que me serve de espelho, espero estarem ao menos os meus velhos, é, só os velhos, pois os novos não o merecem.
Vivo acostumado à hipocrisia, pois até o sangue foi traído. Ora, que são os entorpecentes? Que é a beleza? Que é a diferença? Só por que a simplicidade ¨te¨ incomoda, não é motivo para que de uma maneira maligna acabes com os sonhos (mesmo que feitos de areia) de outrem. Uma gíria: Prisão ! Uma briga: Tragédia !
Um pai: Não existe ! Só restam as forças, e a cada segundo elas vão se esgotando, mas não findam de todo. Vivo o que sou. Nada de família, ou filhos amados.
Vivo o que sou: Poeta-mor de minhas próprias palavras- Cavaleiro de meus próprios reinos- Filho de qualquer diabo-palavra que possa me criar... Eu mesmo !