Procrastinação
Procrastinaste meus pedidos. Procrastinaste meus desejos e ânsia de te amar. Não é certa tal coisa, uma vez que não somos certos. Por que te apegas à procrastinação das minhas coisas? Por que não fazes de mim a própria procrastinação dos teus planos? Segui tua sombra, e dela tirei o meu sustento, e dela me fiz luz. Apanhei teu choro, que através de lágrimas sobre a relva, se manifestava em estados físicos múltiplos. Por que continuas a procrastinar a verdade? Não crês em Deus? Não crês em mim? Não acreditas nas perguntas? Cuidado com as interrogações, amor, pois em sã consciência, ninguém ousaria percorrê-las com toda uma euforia que procrastina os caminhos. Cuidado nas esquinas, com as esquinas, com a noite. Ainda te apegas a mim, na cama, sob efeitos imorais, ou melhor, amorais. Sob taças de vinho e calor de paixões desenfreadas, sob lençóis quentes e encardidos da nossa história de momentos. E sempre, ao amanhecer de cada dia, ao lembrar de cada terceto dos meus sonetos, ao lembrar de cada lembrança, ao lembrar de lembrar de mim, procrastinas tua existência e personificas meu cheiro nos delírios teus, nos corpos alheios, nas procrastinações.