SR. JOAQUIM

SR. JOAQUIM

Sr. Joaquim era mirrado, tímido, mas, falante. Contava "causos" acontecidos ou imaginados que povoavam sua pobre e insignificante vida. Era a maneira que tinha de existir, de se fazer presente. Seu físico era miúdo, mal agasalhava seu coração, enorme.

Vinha do alto sertão, o que só provava que era um forte, um sobrevivente da áridez da terra, um desafiante da vida. Mas, que vida?

Pouco tinha aqui, ou acolá. Pouca vida, poucos amores, poucas razões para continuar o tratamento lento e cruel do mal que o acometeu. Foi sorteado com o marca de portador de cancer. Por que lutar, para que , para voltar para sua terra esturricada, esquecida...?Mais uma vez, provando sua resistencia de baraúna, que ele tão bem conhecia e dela absorveu a fortaleza, continua, mesmo sem saber por que. Sem respostas e sem razão, segue seu rumo, segue sem prumo, simplesmente, segue. O tratamento suga suas últimas forças e o torna mais frágil ainda. Cada dia que passa, seu semblante se tornava mais duro, como uma máscara para esconder sua dor. A fortaleza e a fragilidade se fundem, se unem, resultando esse novo ser, um misto de forte e fraco, de homem e bicho, com vontade de viver/morrer, pouco importa. Às idas e vindas ao hospital, somava-se o medo do desconhecido. À timidez, que o fez resistir em expor sua nudez , misturou-se a dor permanente, a frieza das enfermeiras e enfermarias.

Sua macheza nordestina, sua virilidade sertaneja foi esmaecendo, surgindo um novo homem, além do sexo. E, caminhava para um amanhã sem amanhã. Seguia seu curso, resignado, sem pestanejar, sem medo, sem olhar pra trás. De frágil, fez-se forte, da dor, amor, e, partiu num dia qualquer, numa hora qualquer, como qualquer um daqueles que esperam na fila dos indigentes e esquecidos, que seu dia chegue.

(resultado de 5 anos dirigindo uma casa de apoio a portadores de cancer)