RENATA NAS ESCADAS DA VIDA

Nossa! Foi um tombo grave. Uma benzedeira na escada de cima abaixo...

E um castigo exemplar para seu anjo da guarda que foi pra folia de carnaval. (Ah, se não foi).

E deixou-a a mercê da sinistra escadaria de Poe.

O inferno são as escadas (dos outros).

Melhoras, boa recuperação, boa leitura, boa navegação, boa conversa... Ao pé da escada.

Como dizia minha avó: Cuidado com a escada! Essa escada me mata! Podia ser pior.

Há males que vem para o bem.

Quem nunca caiu da escada que atire a primeira pedra.

"Caí da escada" é poético, singular, marcante.

Nos remete no tempo da nossa vida pavimentada de escadas. Ornada de escadas.

A vida é uma coleção de escadarias num sobe e desce (e cai) sem fim...

É brincar na escada. Vencer a escada do velho sobrado ainda criança. Sondar o prazer dos primeiros amores debaixo da escada. Subir orgulhoso a escadaria do ginásio. Subir no telhado (pela escada). Encarar íngreme escadaria para pagar promessa católica (feita pela mãe). Sentar ao "sol farniente" na escadaria da praça da matriz a ver o tempo não passar... Na contrapartida, a ver passar a linda Maria das Dores a rebolar na ida e na volta.

A esperança de que no fim daquela escada (da vida) encontre a felicidade.

Depois, se deixar cair (da escada) no vazio do infinito desconhecido de Alice no país das maravilhas.

Lindas escadas em caracol. Escadas monumentais da Sé. Debutantes escadas curvadas da graça e do frescor da juventude. Desbravar a longa escada estreita da caixa d'água.

Escada do quintal. Escada rolante. Escada da fama. Escada em chama. Escada de incêndio. Escada do pintor de paredes. Escada no barranco do rio. Escada de caminhão. Escada pra trocar lâmpada.

Escada para o céu. A vida por uma escada que me conduza sã e salva ao reino de Pasárgada.

Escada do rola moça (dos cabelos naturalmente em chamas).

Como é carnaval: "Levanta, sacode a poeira, e dá a volta por cima.

Rolei, aí rolei... Chorei, ali onde eu chorei qualquer um chorava..."

Ao vencedor, as escadas!

Brincando com a poesia de Drummond:

"No meio do caminho tinha uma escada

tinha uma escada no meio do caminho

tinha uma escada

no meio do caminho tinha uma escada.

Nunca me esquecerei desse acontecimento

na vida de minhas retinas tão fatigadas.

Nunca me esquecerei que no meio do caminho

tinha uma escada

tinha uma escada no meio do caminho

no meio do caminho tinha uma escada."

Educação sentimental da Renata pela escada.

(E como doí).

jc.pompeu, fev de 2009