Pouco importa
Se durmo. Ou não durmo. Pouco importa. Saio da cama pela manhã neste filme quase mudo e sequer me contemplo ao espelho. Há dias que não sou digna de possuir uma imagem. É o amanhecer. Reflito. E os meus olhos permanecem fixos. Sem movimento como grandes rios negros numa face em que há verdade. O que enxergo talvez não exista. Tudo isto poderia ser minha invencionice. Uma invenção privada de limites. Desprovida de parte interna ou externa. Qualquer coisa. Que pouco importa. Se morro. Se não morro. Se me ergo. Ou caio. Indo ao chão. Segurando o silêncio das aves nas telhas. Aquela ilusão meticulosa das veias, da boca. Dos meus lábios. Da minha face incendiada. Próxima a um espelho. Onde repentinamente, sozinha. Não há ninguém.