Na noite cansada

Que dias são estes que a noite não termina? Ao passo que o corpo queima. No sangue. De amor. Na noite cansada, que dias são estes que nenhuma noite põe fim? Imediatamente pregada nos acúleos admirados das luzes. À grande distância. Ali. Ao profundo do horizonte tão encardido. De olhos muito intensos e quietos. Como aquela alvura. Aquela brancura das ulcerações amarelas. Das imagens boquejadas no silêncio de um semblante. Que porventura nem ao menos exista. E eu enxergo, escutem-me. E eu estou entregue ao sono no meu silêncio através da sombra que oferece resistência. Sou eu. Estou aqui. Sou esta ação. Um trajeto autista para dentro da noite. Atirada no meu peito. Escutem-me, profiram-me. O meu gesto é como um videoteipe mudo ferido nos dentes de um lobo coberto de sangue. Como uma picada de agulha. Um dia. Um dia que a noite não finda. Sem valor. Logo pregada, neste momento. Escutem-me: a escuridão é tão intensa. A noite é esta mulher que vê em sonhos a claridade. Estas luzes. Ali, distante. Mulher que fantasia. Homem após homem. Num movimento inquietador. De vida. Homens que se movem depressa. Que somem. Como alfinetes. Que fluem. Luzentes. Como o astro rei no ventre dos vaga-lumes. Musculosos no sofrimento da noite. E eu indago: que dias são estes, tão aflitos? Que ninguém os enxerga. Que ninguém os conhece. E eu interrogo: que dias são estes que nenhuma noite no interior deles acaba? Eu inquiro. Eu desprezo. Como uma pancada com força no crânio. Eu investigo. Esticada na cama. Eu descanso no sono. Eu não desejo saber.

Tatiane Gorska
Enviado por Tatiane Gorska em 21/04/2009
Código do texto: T1552381
Copyright © 2009. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.