Branca

Branca. Imóvel como um enorme e incomensurável amor. Por entre o vidro de uma janela imersa ao fundo de uma rua, a casa do meu passado queima-se perdida. Continuando a existir num animal que aguarda no olhar o pormenor dos meus devaneios. Nas bordas daquela casa hirta e branca desliga-se do peito o meu desinteresse. E na ocasião em que ouço a madeira. Do visível para o invisível, as mãos côncavas trazem até agora as lembranças como sementes que me submergem numa voz enfraquecida. Pela janela branca. Tão esquecida e esmaecida junto às feridas da brandura e da omissão. Dos meus olhos brancos. Como um rochedo. Fechado numa tênue falta de lucidez. Onde a claridade e a escuridão se tocam. Branca era a janela do futuro. De mãos verdejantes. Com os bichos frente ao precipício do meu falecimento. Ou nesse tempo despertarei próxima à noite com um grande bosque em sombra nos meus olhos a sussurrar uma dor queimada pelo corpo: e agora encosto o meu cabelo à alvura da lembrança. E agora que vejo luz errada de onde vim, sou a breve idade deste corpo pontuado pelo verdejante tempo do descuido. Nas tardes paradas. Pelo amor. Daquele esquisito bicho. Deitado sobre a língua no descorado vulto dos vocábulos. Na reminiscência das tardes. De haver nenhum gesto dentro do pranto imutável nas vias públicas iluminadas. Dentro dos meus animais premiados na moléstia daquela impossibilidade. Tão minha. Nas pétalas da luminosidade.

Tatiane Gorska
Enviado por Tatiane Gorska em 21/04/2009
Código do texto: T1552332
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