Bom, o girassol ai está só pra que eu possa pedir
perdão a ele, por ter me referido num texto hoje cha-
mando-o de girassol ensanguentado. Pobrecito.
Nada a ver com o que estou tentando escrever agora
que são as cartas de amor.
Posso até parecer demode, antiguinha, fora de época
mas na verdade gosto ainda daqueles tempos mais antigos em que as cartas de amor eram veículos obri -
gatórios nos romances.
Gostaria de ter vivido numa época daquelas, não muito distante dessa em que vivo, mas, indiscutivelmente
muito mais romântica.
Tempo dos bilhetes de amor escritos em códigos em
que sómente os dois sabiam decifrar.
Hoje, mesmo que se não amasse tanto, arranjaria mo-
tivos para escrever tais cartas e bilhetes.
Nas cartas de amor mandavasse também o estado de espírito.
Francamente, sem essas nuances poéticas das cartas
de amor, algo separa corpo e alma.
Hoje os modernos escrevem poemas e poesias às amadas nos versos elaborados que mesmo dizendo
muito ainda dizem muito pouco.
Como não vivi infelizmente essa época tão linda, pro-
curo manter minha agenda com colagens e desenhos
que eu mesma faço e nela registro por do sol, lua
cheia, a infinitude do mar e sempre coloco uma ano-
tação dizendo do que estou sentindo ao fazer isso.
Então, meio à consultas marcadas de médico, lembre-
te de pagamentos e essas coisas nada romanticas vou
recheando minha agenda como se fosse uma carta de amor de mim para mim.
Como será que daqui a alguns anos vou refletir de
tudo isso, não sei. Mas mostrarei aos filhos e netos
como eram meus dias e direi a eles que viver é muito
mais que caminhar.