Ao Vento

"A realidade é um lugar de imagens"

Carlos Frazão

Recebi com curiosidade a manhã num postal de domingo. A varanda do mar. Ninguém. Ninguém olhou a camisola branca ao vento, os últimos dias do vento para a camisola branca, na manhã. Ao vento. O olhar de um silêncio distante. Desagua a chuva na marginal, o asfalto de tudo o que vai, mesmo a solidão, o vazio de ninguém. Disse-te que havia árvores, aqui o mar se prolonga no filtro dos olhos, levo as imagens profundas pelo céu das pálpebras. Pela manhã, um instante onde se perpetua o vento. Ninguém olhou a camisola branca num domingo vulgar, comum, como o areal deserto sob os laivos desta aurora. A noite durou o dia, infinita, não ignoro esse halo arqueado na luz das sombras. Sombras da luz. Uma estrada sem bermas, reflexo num brilho de ombros. Os álamos de um bosque nos lábios da névoa. Muito mais, “a realidade é um lugar de imagens”.

Ao vento. Minha memória. Não sei onde estará a manhã de amanhã. Minha noção da noite, foram outros os vidros que ficaram em outros olhos. Múltiplas imagens.

Uma camisola branca: ao vento,

te homenageio na tua evocação: ao vento.