Vertigem
Quando – em breve a casa aberta na orla cerzida sob a luz – inventasse o perfil dos lagos para realidade do dia – quando o que importa fosse percorrer as áleas emocionadas daquele jardim -, vagamente, vagamente a aurora narra a pulsão da paisagem.
Inverto o objecto da descrição. Projecto a subtil presença das imagens para o exterior. Existe, o cenário do que foi. Existe, lembra-me das árvores agitando-se ao vento vítreo da noite, os móveis no rastro de um quarto que ficou na poeira do vácuo. Descendo pelas avenidas ao fundo da inquietação. Nada mais. Ou. Ainda um espelho debruado em esplanadas azuis. Lembra-me. Um muro onde vamos procurar a vertigem.
Associo o esquecimento. Um exemplo. O mar mais próximo que as janelas ou o céu ou as horas líquidas em sombras que não voltam. Projecto as imagens para o exterior sem limite. Ocorre-me – as aves suspensas numa linha longínqua sem destino – a memória de dentro entre corredores de neblina e sinais de trânsito indecifráveis quando – nada mais que a pulsão das veias pelo friso da noite. Não sei. A realidade. A realidade é um lugar de imagens. Depois, falávamos com os lábios contra os lábios, os ombros revelados, talvez as mãos num seio, a penumbra atravessada pelo silêncio dos olhos. Que importa qualquer hora. Será assim.
O corpo aonde vamos encontrar a vertigem.