AUSÊNCIA

Ausentou-se das belas manhãs, das noites frias e chuvosas.Ausentou-se no vento cálido, no mar revolto e cinza. Viveu, livre entre correntes.Correu, voou e fez casa nas nuvens, entrou em discórdia com os anjos, devido sua irreverência própria. No caminho fatal, vias tortuosas traçadas pelo destino, a fibra rompeu-se no ferro e pneus assassinos, na eterna luta contra o tempo. O ar pesado e carregado de presságios, expressões de cansaço e desânimo, otimismo não é possível, todos os rostos estão sisudos, hoje estamos mais amargurados do que nunca. As alegrias na vida são nuvens, elas passam. A única certeza é a saudade, esta amante faminta e desumana, de boca aberta e unhas afiadas rasgando o peito. Renas ceras a cada dia, no sal da viúva lágrima que jorra do peito jovem, na brisa leve varrendo sonhos quebrados, nas folhas secas que vagam pelas ruas desertas.

Cara, precisamos ser fortes, para aturarmos o que se passou, temos que ser humildes para suportar o que ficou. A música embalará os sonhos, pedras rolarão no bloqueio do marasmo, pressão no peito, grito rachado.

Podemos fugir, mas não queremos, preferimos ficar e tomar o cálice amargo da vida. O nó da garganta é sufocante. Um,dois,três... Mil dias! Quanto tempo temos? A vida passa depressa. O que está reservado para cada um não se pode fugir, nem olhar com receio.

O corpo pousado na campa fria sumirá com o tempo, pois é matéria simplesmente, o espírito elevar-se-á aos céus em busca de luz. No caminho existem pedras pontiagudas, a serem transpostas com sangue e lágrimas.

Mesmo sabendo que o fim do túnel é próximo , a vitória e vã e utópica. O escuro do medo nos apavora, quando visto no espelho da nudez diária, choramos o tempo perdido em busca do nada.

Sorria, pessoa, agora estás vivendo.

JOAO DE DEUS VIEIRA ALVES
Enviado por JOAO DE DEUS VIEIRA ALVES em 11/05/2006
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