POR DO SOL NA PRAIA DO JACARÉ
POR DO SOL NA PRAIA DO JACARÉ
No ancoradouro do Jacaré, atracam traineiras, catamarãs, jangadas, homens, mulheres e crianças. À tiracolo, máquinas fotográficas prontas para registrar tudo e todos.
O clima se forma, o cenário apronta-se. Tudo é espera, espectativa,
ansiedade. A àgua corre lenta, pesada, preguiçosa e como se não bastasse ser rio, ainda é mar. O sabor tem um que de sal dissolvido no doce do rio. A vegetação à margem é de um verde doedor: mangue gerando mangue. Uma lama macia esparramada dos lados abriga e cospe uma infinidade de aratús, sirís, caranguejos, inquietos, rápidos, numa eterna fuga do homem. Sons, estalos e burburinhos, no entanto os denunciam e indicam vida.
O som insistente, contínuo e magoado do bolero de Ravel, completa o espetáculo. Todos a esperar o mergulho do sol de sangue na água já avermelhada...
Os olhos se esbugalham, os ouvidos se aguçam, a respiração suspensa...mas, nada acontece...indiferente ao palco e a plateia o sol não se põe, resiste,e, para.
Para, a espera dos girassóis que não chegaram para o reverenciar.
Na praia do Jacaré, hoje, o sol não se pôs.