[Nesta Manhã]

A manhã tem um gosto de despedida,

despedida de quem, do quê, por quê...

Sensação de mim em outras épocas,

outras ruas, outro sol, outro mundo

[a manhã é de chumbo, sem sol...].

No meu quarto, paira um cheiro enjoativo

que expressa a medida da minha solidão;

no espelho do banheiro o meu rosto molhado,

sem o desenho de qualquer expressão;

ah, a fome antiga que não volta nunca mais,

e a perda do jardim do cultivo de esperanças!

As palavras não têm, de si, uma face,

mas elas podem me vestir uma face:

hoje, a da tristeza por uma causa

expressada na palavra "Despedida";

síntese de não sei o quê, por quê.

E justamente por eu não saber,

invade-me o nada, e nada quero,

não há um objeto do [meu] desejo

colocado na paisagem desta manhã -

vazio, vazio oceânico... everywhere I look!

Ah, cinzas, cinzas bíblicas sobre a cabeça

deste ateu náufrago no absurdo do mundo!

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[Penas do Desterro, 16 de abril de 2009]

Carlos Rodolfo Stopa
Enviado por Carlos Rodolfo Stopa em 16/04/2009
Reeditado em 09/07/2012
Código do texto: T1542041
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