Fora do jardim

Fora do jardim está o meu escritório com a minha vida caída e arrumada num vasto móvel. Aí não crescem as altas árvores ou o viço das frutas luzentes. Nem maduram as pêras, sequer os cachos uns sobre os outros na violência esmagadora da candura lógica e vagarosa do universo. Fora do jardim tudo é aquele sótão morto por intermédio das ondas naquele momento em que morri por ter me estendido para a frente. Tão sombria e intensa é a infância neste instante. E aqui, à entrada azul desta tarde que brilha pelas lâminas de vidro deste escritório, eu levanto a cabeça hipnotizada como um objeto e sou um isolamento completo, sou aquele afastamento asfixiado e machucado por entre os braços da minha morte estourada nas ondas deste local tão vazio. Eu reflito isto tudo e, perdoem-me, desculpem-me mas eu não sei como pensar a minha vida se não nesta limpidez das longas noites do mundo, nesta magnífica e remota reminiscência das roseiras, do nome remoto da minha mãe a florir folhas pequeníssimas no interior dos devaneios. E tudo tão distante, tão inteiramente afastado deste escritório.

Tatiane Gorska
Enviado por Tatiane Gorska em 10/04/2009
Código do texto: T1532781
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