[Da Completude em Ti]
Sabemos muito bem, apenas não admitimos: o sentido que falta às coisas, de fato, não falta - os nossos olhos ansiosos é que instituem a falta - pois, o mundo-em-si não nos pede liçença para simplesmente ser o que é. A incompletude está sempre em nós e requer nossa presença para surgir no mundo!
Em contraponto, e sem exarcerbar ainda mais o óbvio, o que eu diria da falta que sinto de ti?! Da memória do teu corpo no meu, jamais substituída, portanto nunca igualada?! Da escureza misteriosa de teus olhos quando sombreados pelos teus cabelos?
Quem, senão eu, institituiu este vazio, esta falta que o ruído dos passos que se afastam só faz aumentar? Ah, sim, estar no mundo pode ser assustador, e dou-me conta de estar perdido, perdido, perdido... aturdido com a falta de sentidos que a tua ausência cria!
A recorrente e fugidia lua cheia é um prêmio só para quem não morre no quarto-crescente - os caminhos, as estradas terminam sempre naquele ponto em que a gente se rende, desiste - a completude é uma "falta-a-ser", um buraco que nunca some, por mais que se tente soterrá-lo - tem o sentido de ser impreenchível! Existe, dura, é tangível? Desespero, desespero - o absurdo da humana realidade!
Despertar ao teu lado... Ah, que doce era buscar a completude em ti, naquelas tardes, naquelas noites, e nas madrugadas do nosso imarcescível gozo!
[Penas do Desterro, 09 de abril de 2009]