Arredores
"Modos de fazer mundos"
N. Goodman
Os arredores do lugar, os arredores da noite, até onde se projecta a luz num vértice íntegro. Exacto. Nenhuma realidade é imediata, é com as palavras que projecto um mundo possível.
Agora estende-se uma atmosfera que permite falar em sílabas nocturnas.
Um rastro de múltiplas sombras envolvendo o ar.
A revelação do corpo, o som dos lábios pelos ombros, mesmo o declive dos olhos no espelho da penumbra. Enlaço a vigília nesse passeio de lábios. Sei dos caminhos invisíveis da noite exterior.
Ronda o mar a janela dos olhos, infinitos gestos dissecando a aura lunar. Quanto mais surreal mais real.
Um regresso ao labirinto, entrecruzo o corpo no teu corpo, o que ficará perdido na casa num canto de água sem ruínas. Como quando a memória é apenas a superfície digital de fragmentos. A memória – insisto – é sempre o que vem ao futuro revelar-se.
Nenhum relato autêntico, mas a invenção: do que foi.
Transformo a noite nas arestas: do que virá, tudo são os arredores dum lugar.
As aves voam por que voam nos olhos.
Como as imagens da noite.
Este lugar possível