Blefe

Blefe

Supondo que a vida seja um jogo de pôquer, o amor é o Royal Straight Flush e a paixão é o blefe. É o tiro no escuro, a arte de construir uma história vencedora com mãos vazias, é a sedução brincando de vencer e conquistar com exércitos sem filas, é a aparência fantasiada de essência.

É a missão de vencer sem recursos, a questionável abertura de trilhas na misteriosa floresta, a sugestão de inversão de valores, a troca da paleta de cores. É a criatividade fluindo e se expandindo, convencendo o universo da sua verdade, gerando novos paradigmas e conceitos.

O amor não se faz com seqüências ou ases e sim com cartas que podem até aparentemente não se combinarem, mas que unidas blefam contra as regras e imposições e conseguem vencê-las apenas acreditando que são capazes de fazê-lo independente do que dita a razão.

O amor não precisa vir como uma mão perfeita, muitas vezes precisamos trocar cartas, descartar e mesmo apostar contra as evidências, não precisa estar totalmente encaixado para ganhar em uma rodada e em outras mesmo quase perfeito pode ser superado, a balança pende para lados distintos a cada instante ...

O amor está em permanente construção, mas para sobreviver e fazer valer seu título deve estar sobre uma forte fundação.

Blefar é uma arte de difícil domínio, seu controle é vital, pois quem

blefa até para si, crê numa fantasia que é facilmente desconstruída no dia a dia e definha chorando por uma mor que nunca ultrapassou os limites frágeis da imaginação .

A roda da Fortuna é imprevisível e a sorte é uma dama volúvel que vive

alternando de lado, é imprescindível saber perder pois a vitória é

ilusória e nos engana com uma tênue sensação de onipotência e

estabilidade, algo absolutamente impossível num mundo que não para de girar.

Olhe nos meus olhos e não blefe, diga sua verdade, pois esta, aliada a

minha, forma o único alicerce que pode sustentar nosso amor, o amor,

nossas vidas, a vida em si.

Leonardo Andrade