Sereno Navegante

Ainda vive aquele amor... que a firmes braçadas afastei da minha vista, lançando-o ao mais recôndito do meu coração. E, quando eu já o supunha engolido pelas ondas agitadas da lida diária, aprofundado na areia do tempo; ressurge flutuante nas águas calmas e claras de uma madrugada insone. Boia placidamente...

Será um "amor relíquia"? Que a maresia desgasta, as rochas maltratam, e as correntes confundem; mas ao sabor do acaso, emerge à superfície bailando pela linha do horizonte no alcance do seu mais magnífico reflexo: seja no espelho do mar, seja nos cristais do sol.

Uma espécie de "tombo"? Patrimônio da humanidade o amor? O meu amor. São meus olhos vitrines do museu empoeirado e falido das minhas emoções? Minha triste complacência é o insosso drama assistido, ou se trata do espetáculo o meu sorriso nervoso convincentemente camuflado? Vejam! A vida que ainda ensaio daqui pra frente já tem platéia, contra e a favor... mas sequer eu mesma dou-me por convencida deste novo papel!!

E a lâmpada mágica - já sem o gênio fantástico, que se foi antes mesmo dos meus ingênuos pedidos - navega. Por quanto tempo mais, quem saberá, até no esquecimento outra vez naufragar? Sereno navegante, o que ainda quererá? Se a quietude por vezes outrora já fora desbravada por homens desejosos de sua posse, e a duras penas reconquistada! Se aqueles infaustos pagaram com a própria vida o desfrute das intenções não concuminadas às suas? Por que, insistente, revela-se? O que, teimoso, espera?

...

Atrair com seu pouco lustro quem a longínquo tempo o perdeu?

(Gargalhadas)

Oras... esperançoso! Ignora que o mar são lágrimas de um impiedoso e infindo esperar? (entregue-se; ou enterre-se!)