A CASA ROSA JUNTO AO LAGO AZUL
26 de março de 1976 – 19 horas
Em Florzi, quanto a mãe queria ver a filha! Logo veria a beira da praia a madeira pintada de rosa. A água do mar invadiu a praia e a madeira cor de rosa ancorava na orla. A janela branca descansa na areia ao cessar do vento. Lá se foi a nuvem negra pavorosa rumo ao leste.
26 de março de 1976 – 18 horas
A ventania assoviava entre as árvores da ilha de Sansma, as palmeiras se requebravam ante a violência da tempestade. A cor de um amarelo encardido formava os pingos enormes junto ao granizo que arrebentava as grandes folhas. O coqueiro agora era apenas um mastro, a palmeira tostada pelo raio, os clarões dos relâmpagos eram constantes. Na enxurrada iam os grandes bichos da floresta levados para fora da ilha sobre o lago que não mais se via. Grandes toras, e árvores iam embora levados pela enxurrada. Madeira pintada de rosa e janelas na cor branca iam também de encontro ao mar. Uma banheira parecia um barco. Um vaso de flor boiava dançando na chuva.
26 de março de 1976 – 17 horas
Um raio atinge o coqueiro, ele não resiste, cai toda a cabeleira e junto os cocos. Foi uma explosão única simultânea ao clarão. Nem mesmo houve eco. O aguaceiro vinha atrás acompanhando a nuvem negra revoltada empurrada por ventania, vinha rápido, muito rápido, como que desgovernada sobre a ilha. Os grandes bichos tentavam correr, mas em vão.
26 de março de 1976 – 16 horas
A nuvem adentra a ilha, na sua vanguarda apenas sua sombra ia correndo escurecendo as árvores e tudo embaixo delas. Por cima as aves voam desesperadas na direção da luz, na direção do mar. Abandonam seus ninhos em nome da própria redenção. A nuvem vinha a cem por hora e o vento a trezentos, trazendo danos, poeiras e galhadas. Qual trem desgovernado seu farol era seu relâmpago um sinal a ser visto em Florzi, quanto a Sansma já sofria o caos. Seu apito era seu trovão que se ouvia em Florzi.
26 de março de 1976 – 15 horas
Na ilha de Sansma apenas o vento fazia arruaça. O mar estava agitado e as árvores estremecidas deixavam escapar suas folhas. O mar chegava a espumar na sua fúria. No lado Oeste da ilha, o mar revolto recebia uma noite ambulante. Na ilha uma expectativa melancólica. O coqueiro jururu aguardava o porvir sombrio. A ameaça esta ali. Entrando sem piedade. Nenhuma dó. Do Holoiram e Luarei vinha a tempestade.
26 de março de 1976 – 14 horas
Distante, bem distante, um clarão se podia ver por trás das serras, numa terra longíqua chamada Holoiram. Daquele país, bem ao Oeste, no Estado de Luarei, algo cintilava entre as serras. Não era o brilho de algo bom. Os clarões ora branco, ora vermelho, surgia em segundos bem ritmados.
26 de março de 1976 – 13 horas
Na varanda da casa uma pequena tábua tinha um letreiro: Lar da Paz . Realmente quem poderia roubar a paz de um lugar tão aprazível? Mesmo a natureza contribuía tornando o lugar ameno. O sol nunca se fez abrasador em Sansma, o bandido nunca se fez presente e na ilha apenas visitas de turistas apreciativos. Levavam até seu lixo de volta ao continente.
26 de março de 1976 – 12 horas
A casa era de madeira pintada de rosa. Janelas e portas na cor branca destacavam-se junto a relva verde junto ao lago azul.. O imponente coqueiro erguia-se qual sentinela a entrada da ilha, e beija-flores ao meio-dia vinham e iam àquele rancho. Pérola vivia ali. Recém casada aguardava seu esposo (era guia turístico). A casa não tinha muito trabalho, pois só se devia manter a limpeza. Cantava perfumando o ar, ajeitando as flores para tornar o ambiente ainda mais aconchegante. Ao erguer a cortina de fino véu ela via as ondinhas que a brisa fazia vir no lago junto a sua casa. Guardião era seu cão de estimação. Ela amava viver ali, na tranqüilidade do lugar junto ao lago azul. A brisa constante que vinha do lago arejava o lugar onde o sol apenas despejava sua luz, sem jamais causar calor. A fumacinha branca sobe verticalmente para o céu azul. Seus patinhos nadam livremente no lago. Suas tranças no cabelo imitam o nó da cortina em ambos os lados. O amor vinha encontrar a paz. Em Sansma.