[Separação da Dor?]
Diz-me o filósofo da "virtude separadora do tempo" - o choque do óbvio: "o tempo me separa da realização dos meus desejos". E vai mais longe, até o lugar-comum:
"todo agora está destinado a se tornar um outrora. O tempo corrói, escava, separa, foge. E também, a título de separador - separando o homem de sua dor ou do objeto de sua dor -; ele cura."
Como sempre, eu só tenho perguntas; respostas, nenhuma! Não quero saber de respostas; aliás, resposta, resposta mesmo, só existe uma: a morte - solução cabal e definitiva do "absurdo-frágil" experimento da vida!
...mas e o amor, separando-me do meu amor, em tempo e distância, será que me separei da dor? Por que choro sozinho no embalo de uma brisa, num por-do-sol, ou ainda diante de uma mesa de café forrada com uma toalha branca, numa manhã radiosa? Por que me estremeço em soluços ao ouvir um leve acorde que seja de " 'Round Midnight"? Por que, por que ouvir "We Will Meet Again" - ímplicita neste título uma promessa "temporal" - não me separa, mas me reúne com minha dor? Um colapso do tempo? Não sei, nunca saberei.
Na firme certeza que tenho de que aquele amor durará até o meu último instante de lucidez, eu digo: o tempo não é cura, mas é reunião com a dor, com a perda do sonho, do sonho de um amor da vida inteira - transcendência misteriosa aprendida num longo abraço, no vento frio de uma certa madrugada! Quem me lê, me sabe...
O Tempo separa... separador... separa-dor... separa da dor? Não! Ao afirmar que o tempo é cura, o filósofo se esqueceu do amor... o tempo não pode apagar a dor se esta se rima com amor! Disto sabemos nós, amantes e poetas...
Chorando outra vez... ah, vou interromper a música e parar de escrever!
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[Penas do Desterro, 03 de abril de 2009]