Liberdade Poética

Sou poeta.

E por isso peço sua condescendência.

Perdoem-me a arrogância

e a impertinência,

é que, além do mais, estou velho,

e velho dos chatos,

cansado de tudo.

Sou humano.

Mas espero, pelo menos,

ser um humano instigante, estimulante.

O mundo espera de cada pessoa

passividade, complacência,

e não passionalidade, paixão.

O mundo quer que eu diga sim.

Meu patrão quer que eu diga sim.

Minha mulher espera meu sim,

o padre também,

e ainda que eu exercite a tolerância.

Meu vizinho quer que eu concorde

com aquilo que ele concorda,

que eu aceite

o que ele acredita,

o que lhe é verdade.

- EU DIGO NÃO!

Digo a verdade!

A minha verdade!

E sabe o que espero de você?

Que me diga sim!

Que concorde comigo!

Que não discuta e não questione.

Eu sou mundo.

Você é mundo.

DIGA SIM!

E vá em frente na fila...

esperando a sua vez.

Tenha paciência... alguém vai te atender.

Passivamente,

espere o tempo passar

e a fila andar...

ou DIGA NÃO...

Discorde...

Tente ser um formador de opinião.

Vai ver como, de repente, mais que de repente,

não será mais bem vindo no mundo.

Estará na contramão da história,

da correnteza, de tudo.

Vai ser visto como entulho,

como pedra no caminho.

Seja você mesmo

e vai ver só...

Vai se ver comigo!

Jan Câmara