Alma sintética
I
Uma alma que jaz ainda viva,
Num espaço e num tempo que perdeu
Que perdura na cova da saudade
À procura de um bem que a vida não lhe deu.
Uma alma que ainda vive a carne
E os ossos no ócio esqueceu
Uma alma que sofre a desventura
Uma agrura de um sonho que era seu.
Esta alma que fala das alturas
Com candura a ternura ofereceu.
II
Uma alma feliz por seu destino
Consumada de vida e de prazer
Minha alma ainda está ativa
Porque a ti a alma concedeu.
Tua alma jamais rimou com calma
Teu espírito ativo sempre está
Produzindo um verso sem conexo
Para as almas que só sabem rimar.
É loucura viver com tu vives
Numa prosa, num constante delirar
Foste alto demais agora chega
Pra sair de onde estás só se voar.
Mas um corpo pesado não flutua
Há a lei da gravidade a respeitar
Permanece aí no topo por um tempo
Sem alento a contento do esperar.
Que outra alma sintética como a tua
Sobre alua resolva te buscar
Por enquanto respiras o ar gelado
Da montanha que teu ego erigiu
Não descuida-te dos ventos traiçoeiros
És o único que ainda não caiu.
III
Uma alma insepulta cheira mal
Cá embaixo não há lugar pra ti
Onde as almas rastejam sobre o caos
Como sorte pede a morte pra subir.
Em qualquer canto que haja a vida
Concebida por lógica ou por prazer
Logo cansa de ser apenas vida
Constrangida não pediu para nascer.
Mas se nasce com uma força viva
Esforça-se pra nunca perecer.