DESERTO DA SAUDADE

Saudade!

Estranha dor, estranha angústia que se abate sobre a minha alma e a faz, ausente do meu corpo, vagar por estranhos mundos, á procura do amor distante. Tão próximo e tão distante, inacessível, faz brotar a consciência do amor impossível. Mas esta alma, tão inconstante, te procura e te espera, navegando sôbre as águas turvas e revoltas da saudade.

Mas mesmo assim, bebo na taça de cristal da esperança, o embriagador néctar do teu amor, que se um dia foi meu por um instante, um dia há de ser meu para sempre; e para sempre terei os teus lábios nos meus, e a flor dos teus seios, deixarão em mim os perenes eflúvios da felicidade.

Mas hoje, a tua ausência faz descer sôbre mim o negro véu da infinita tristeza, flagelando minha alma, meu corpo, todo o meu ser.

Lembranças de horas felizes, momentos felizes e efêmeros, que custam eternidades para vir e em um átimo se desvanecem.

A tua ausência física me enfraquece, me leva a vagar por regiões desconhecidas e me faz enfrentar estranhos fantasmas, estranhas formas de sofrimento, que minhas forças não conseguem vencer.

Nessa hora, te entrego os meus braços trêmulos de amor. Te entrego o meu corpo, febril pela tua ausência, e então as minhas mãos, que os mais lindos poemas queriam escrever, te acariciam, te afagam, te fazem sentir mulher e em infinita ternura, abrigam teu rosto e te confessam o meu amor. No abrigo do teu corpo, sinto o meu ser envolvendo tua alma; sinto esses lábios lúbricos que tanto adoro, sinto a tua fraqueza, ante a força do meu amor. Então te abandonas ao sabor das ondas calmas da minha paixão e sentes em teu corpo a carícia tépida do meu amor e tuas mãos me farão sentir as alvas flores da felicidade. Então ouço os longínquos sussurros da tua boca sensual, que me avisam que estás distante, muito além dos murmulhos difusos que ouço agora, vindos desse mar de saudade que me afoga.

Nesta angústia, vejo apenas a lividez da minha alma, vagando pelos tétricos desertos da saudade, procurando a fonte das águas lascivas do teu amor.

Mas você não vem e eu espero a teurgia impossível, trará você para mim e a deixará ao alcance das minhas mãos apaixonadas para que o amor que flui em minhas veias, possa transfundir para teu corpo toda a magia desta louca paixão.

Mas você não pode sentir a minha dor, não pode ouvir o meu grito. Mas enquanto houver vida, espaço e tempo, as aves do céu e as flores do campo, ouvirão o meu lamento de saudade...