Uma Hora Oscilante
Uma hora poisada sobre o dia, como um declive. O vento florindo a relva para que a luz se estenda, aquela luz ao fundo da tarde. A avenida abstracta e quem olha a sombra que cresce nos abetos. Um ideal. A opção de não escolher entre caminhos, deixar espelhadas as vias que a noite apaga. A noite dilui o que foi vivido sob os candeeiros verdes do destino. De um outro modo.
Uma hora a mais no pilar das árvores, grafito os muros com desenhos impossíveis e traços vulgares em nocturnas imagens. Tudo passa. Os navios que não vejo, aves volteando em rajadas pelas janelas de cortinas abertas. Entra o silêncio marítimo pela sala sobre sulcos de espuma. Um ideal. Como quem acredita num instante memorável.
Uma hora a mais na companhia do real. Evoco o vento filtrado num ar de prata e lembro. Lembro as áureas alamedas de um lugar vago, os dedos trocados numa lúcida aurora sem o tempo amolecendo os corpos. Por que era um dia demasiado breve para ser eterno o lume. Tuas veias fluindo como asas em estrelas.
Uma hora no futuro. Escrevíamos com os lábios oscilantes o que não sei dizer em sílabas ontológicas. Os lábios oscilantes no laço curvo do mar, esta noite de lâmpadas acesas rente à pele. O que não sei narrar à paisagem líquida, as folhas por onde desliza o vento entre áleas, partículas suspensas do dia. Um ideal. Como quem acredita num instante memorável.