É só mais uma gota
Quente, levada pela gravidade,
brilhava salgada, enaltecida por suspiros,
Uma lágrima.
Sem constrangimentos quis saber de que se tratava.
Por que aquela lágrima procurava no seu rosto
o caminho mais curto para chegar à sua boca
ou dela passar para achar o vazio,
morada de todas as lágrimas?
Ela, não a lágrima, a dona, olhava para dentro de si
e balbuciava coisas, em turbilhão. Palavras ditas,
como se fosse possível com palavras acompanhar os pensamentos.
Como se o encadeamento de suas idéias, com os contextos que somente ela conhecia,
pudesse ser entendido com meias frases, meias palavras.
Coisas que eu já sabia, coisas que eu não fazia idéia,
que podiam ou não ser ditas, saíram...
Parecia, não a dona, a lágrima, querer, pretensiosa, compensar a sua dona,
e promover alívio pura e simplesmente pelo fato de ter se doado
em representação ao estado momentâneo daquela mulher.
A lágrima, de per si, considera resolvida a questão.
Acha-se o último momento da briga, o máximo da alegria e por aí vai.
Se apareceu, fim da história, resolvida a peleja.
Insisti na indagação:
– Que se passa?
Ela, a dona, respondeu, senhora de sua lágrima e de si, olhando para o horizonte, olhar meigo mas firme, colocando a lágrima no seu lugar:
- É só mais uma gota.
Jan Câmara