Havia algo
Há um quê de mistério refletindo entre os dois olhares. Há um quê de mistério. Há alguma coisa não dita. Ou já dita e não refletida. Ou já dita e refletida, mas não solucionada.
Há algo refletindo entre os dois olhares. Há algo quando eles se encontram. Há algo quando eles se desviam depois de se encontrarem. Há alguma coisa também quando eles se desviam antes de se encontrarem, tentando evitar que o outro tenha consciência que está sendo observado.
Havia algo quando ele a fitou e ela o olhava fixamente. Ela sorriu. Ele sorriu. Havia algo naqueles sorrisos. E nas maçãs do rosto dela, que enrubesceram.
Havia algo no dar de mãos, algo de casto, algo de puro. Algo de inocente. Algo de... vergonha?
Vergonha não é a palavra certa, eles estavam desconcertados, havia algo no desvio dos olhares, na sutileza dos gestos.
Havia algo nos toques involuntários e acidentais; e algo nos premeditados.
Principalmente havia algo naquele não-abraçar, não-beijar. Algo de ininteligível entre dois amantes.
Havia o medo...
Havia a dúvida...
Não sei. Havia algo entre eles.
Ou talvez não houvesse nada.
Não. Tinha de haver algo naquela troca de sentimentos, sem toque. Tinha de haver.
E depois os dois se levantaram e foram embora.
E continuava algo sobre a mesa. Continuava algo entre os lugares onde eles haviam se sentado.
Havia algo na distância milimétrica que mantinha seus corpos afastados, e na força que os dois faziam para mantê-la.
Havia algo. Eu não sei o que.
E continuou havendo algo que eu não sei o que.
Havia a distância na contigüidade.