E o sonho continua...
A noite vem chegando envolta em seu véu cinza, que aos poucos se enche de pontos brilhantes por todo o espaço celeste. Estrelas cadentes cortam o infinito. A brisa noturna traz uma sensação de conforto – presente da natureza aos humanos. Encerra-se a jornada de trabalho diário, com o passar das horas, chega também o silêncio, é hora de recolher-se a intimidade. E novamente o ritual se repete; Vênus mais uma vez prepara-se para o seu banho noturno, embora essa noite seja mais especial que as demais – é a primeira noite em seu novo apartamento em companhia de seu Apolo. Despe-se da roupa leve que usa e também de todos os aborrecimentos que o dia lhe trouxera. Passou! Quer estar leve!
Olha-se no espelho e percebe que mais uma ruga surgiu em sua face. São sinais do tempo vivido e um aviso que precisa viver o que resta: sem espera, tabus, preconceitos ou privações. Viver intensamente o momento presente, amar livremente e deixar-se amar totalmente. Liga o chuveiro lentamente e deixa cair pequenas porções de água fria sobre o seu corpo, que por ele deslizam sem pressa, e vai aumentando aos poucos, até formar-se uma cascata transparente que acaricia, refresca e enrijece a pele. Usa seu sabonete preferido que contem essência suave que embriaga até seus pensamentos, que nesse momento são sonhos alcançáveis. Em seguida, unta-se de óleo trifásico, hidratando e perfumando a pele, que se torna mais sensível e desejada de ser tocada pelas mãos do amado. Seca-se levemente. Borrifa seu perfume preferido em pontos estratégicos, nesse instante, mais por vício, que por necessidade. Seu aroma peculiar invade o ar. Põe um lingerie na cor que inspira paixão, que lhe cai muito bem. Solta suas fartas madeixas, que se contrasta com a nudez de seus ombros claros. Contorna seus olhos com um lápis preto tornando-os mais acesos e dá um leve toque de batom em seus lábios. Precisa estar exuberante para agradar ao homem amado, e fazer dessa noite, algo inesquecível. A primeira, nesse novo espaço tão sonhado. Olha-se mais uma vez no espelho e se sente bem. Está feliz. Sorri.
Adentra ao quarto, cuja iluminação é uma leve penumbra; descalça caminha em passos cadenciados pelo ritmo do coração que explode de emoção, em direção aos braços abertos que a espera. Boca sedenta de beijos molhados; corpo ardente de desejo. Seus olhos cruzam com o olhar mais fascinante já visto, cujo brilho, se destaca no ambiente, e, nesse momento sua alma levita de felicidade. Entrega-se sem pudor ao amor.
Em transe, se pergunta: isso é real ou um sonho quase real? Que importa... E continua a sonhar, alimentando o seu viver...