O outono tira meu sono
O outono tira meu sono
Talvez as folhas que caem não sejam um mero descarte , talvez elas queiram proteger seus pés do solo como um cavalheiro que estende seu casaco sobre uma poça para sua dama não se molhar.
Talvez as cores em tons pastéis sejam criadas para descansar seus
delicados e belíssimos olhos após a claridade ofuscante do verão.
Talvez a maturação seja a execução prática da sapiência da natureza em forma de uma pausa da exuberância doverão, do excesso de cores, amores efêmeros de estação e fugazes paixãoes de ocasião.
Talvez o outono seja o melhor símbolo de renascimento que existe, ele
representa o envelhecimento , a ingerência da razão nas flores e sua morte abrindo espaço para uma sempre nova primavera, tudo ao som do do vento , puro jazz, show final do que jaz.
Outono é céu morno, resfriamento gradual da paixão desenfreada, sua pausa para entendimento e reflexão, análise, psicanálise, exploração do lado oculto da lua, das vielas perdidas entre ruas e mentes, é o ato de frear lento antecipando o congelamento do inverno, é a ante sala do céu e/ou do inferno.
É o compasso de espera, o arco-íris esmaecido, o lento desprender das
folhas amareladas do velho calendário, é o vento das mudanças soprando mais forte, varrendo definitivamente o que cumpriu sua sina, o olhar triste e doce, a lágrima furtiva que escorre da menina que começa a virar mulher, o fim da inocência, o prelúdio da decadência.
O espetáculo final , a transição cromática das cores e da alma, o
surgimento do camaleão, a paz inspiradora das tardes vermelhas,a
indescritível mansidão que as palavras não conseguem traduzir.
Outono da chuva fina, lágrimas contidas e envergonhadas de saudades do que se foi e não tem volta ou do desconhecido que está por vir atrás da porta que inevitavelmente vai se abrir. A dor visceral e inevitável das mudanças.
Outono onde as estrelas descem do céu para fazer amor nas folhas caídas no chão.
Outono eterna inspiração para canção do amor sofrido, incompreendido, proibido, do sentimento incontido.
outono de declínio e de queda, outono de névoas e sombras, outono de pernas, entrelaçadas, emboladas, confusas sem saber para onde seguir, outono de pensar, repensar, de refazer votos e assumir laços, outono de confundir passos.
Outono de contemplar o show da natureza e reafirmar minha única certeza, a de te amar cada vez mais e mais, a cada segundo, a cada estação , a cada encarnação ...
Leonardo Andrade