{Viver...}

Viver é desaprender a vida, aprender desaprendendo, às vezes como se fosse pensar, viver matematicamente, correr riscos de errar, mas de também buscar razoáveis possibilidades e soluções, como um filme voltando, os gestos ao contrário, os passos voltando e indo, ah esse ritmo ciclotímico! não quero a vida pronta como nas cartilhas onde se "aprende" caligrafia toda igual ou nas nojeiras das gerações "arcas". Nem decorar os textos de peças teatrais repetidas vezes, vida ultrapassa teatro, não tem ensaio ou será tem? É de prima! Surpresa a cada instante, toda vez um novo dia, não que seja bom, nem tão pouco mau, mas sempre na busca do melhor.

Não posso voltar a cena e fazer à vera na hora H, é tudo viver ao vivo ou será posso? Se tiver que interpretar, eu mesma faço o meu personagem de mim, sem ensaio e mascarado de realidade. Vida, vida mesmo é esquecer o texto decorado. E improvisar a fala...

Vou provando de mim lentamente como uma coisa pastosamente licorosa, acre, coisa salobra, amarga até, assim como quando se chupa o próprio sangue ainda quente num corte repentino ou como quando se experimenta alimento vivo dentro de uma cena morta no horário nobre. Vou abrindo e fechando o foco cada vez mais...

Que é isso que sou? Que personagem de mim é este? E este corpo que me permanece? E esta fome que me habita? E esta sede que me vive? E este desejo que me espande, inflama? E esta ânsia que não me justifica? E essa vida que não se explica? E essas respostas sem perguntas?

Ah, esse paiol de pólvora!

Alessandra Espínola
Enviado por Alessandra Espínola em 20/03/2009
Reeditado em 20/03/2009
Código do texto: T1496423