Brevidade

"E seremos sempre breves para sermos."

J. Luís Borges

Houve uma hora. Havia o lugar da desatenção. Alucinado no assalto da luz íntima pelos veios filtrados do silêncio. Como a linha na margem,

aquele dia para viver de encontro às sensações sob o halo das lâmpadas. Não sei. Como se as palavras se esgotassem na nebulosa do crepúsculo. Digo, de um modo análogo ao vento, tudo vai diluir-se no lastro das sombras.

Experimento a literatura como barco, ouço o mar por dentro das praias, é possível repetir-me, escrever na pele o indizível para a memória me lembrar. Partir, as alamedas verdes da convicção, partir para onde fui breve em imagens de um lago vítreo de estrelas. Assim. Ser breve. Dizer o que nunca deve ser dito. Guardo em apontamentos frases alucinadas.

A brevidade. Única certeza do que existe. Os canais coincidentes do infinito. De novo. Assim será o olhar efémero das aves. De outro modo, esta manhã bebeu o desejo da noite com a recordação da morte, ouvi o som dos comboios como um eco alegre do que passou. Assim. Ser breve. Enquanto duram os instantes – alucinados.