Acaso-poesia.
Acaso
Os antigos, alguns sábios que ainda perduram como sábios,
Diziam sobre poesia: um poeta não nasce com o dom,
Apenas com uma vocação... Hoje achamos que já desvendamos
Este divino ou maligno enigma... Todos os poetas, sobretudo os malditos,
Não se achavam iluminados nem que são inspirados por deuses
Como pensava Sócrates ou Platão sobre os rapsodos de Homero.
Hoje, aqueles que ainda erguem sua espada nessa guerra insalubre,
De transformar o acaso da existência em algo mais belo
Não admitem ser um ventríloquo nas mãos de alguma entidade do além.
A poesia é uma arte, sim, uma bela arte. Para tal arte se dar
Faz-se necessário a aptidão, que não se trata de herança cósmica
Ou espiritual. Muitos poetas são dignos de honra e de sustentar esta bandeira
Que nos faz crer que a vida, apesar de ser enfadonha, sem objetivo nobre
Pode ser menos dolorida, com a ilusão que nos pinta a poesia, com as suas
Imagens criativas, e, acima de tudo indispensáveis.
Ainda vale frisar, que não é para qualquer um poeta ser.
É preciso ser “crédulo,” e é aí que reside um belo paradoxo, pois não existe
Poeta crédulo de fato. É esta descrença que lhes fazem crer
Na estética e na melodia que há nas palavras quando são dispostas
Em verso e em prosa.
Sendo um acaso, é que se torna lírica e intrigante a fonte que brota poesia.
O espanto, a contestação do inevitável... Morte... Poesia.
O óbvio visto sem medo, sem pudor da devoção e da adoração do nada... Poesia.
A crença... A fé... A alegria... O sexo... A vida... Isso é acaso-poesia.