PAIXÃO E LOUCURA

É gostosa a sensação, quando se deita o corpo ao descanso e se libera o espírito a viajar na lembrança, mas é triste o lamento se um pensamento estranho a ocasião vem atormentar o sonho. Uma paixão que não descansa, não libera, não esquece. A sensibilidade do espírito não foge a dura realidade de uma alma apaixonada. A covardia de tamanha plenitude que se apresenta sem o limite da lógica e da razão, tornando-se campo fértil de emoções e rompantes em um egoísmo vergonhoso, é desconcertante. Olhar a morte do ser amado com carinho, pois a saudade, o tempo torna lembrança, é mais aceitável que a própria vida da paixão que nos rejeita, isso me entristece. Como esquecer um coração que pulsa quando o ar que se respira é o mesmo ar que o mantém vivo, sentir-se rejeitado quando o amor, que se imagina é tão sufocante e falsamente altruísta? Isso me aflige. Com efeito, viver uma paixão egoísta não serve de berço a uma poesia de amor, muito menos a compreensão de um poeta carente de inspiração. Não posso entender, que paixão é essa que olha primeiro sua própria existência em prejuízo do objeto que entende estar amando. Vivendo tão intensamente esta realidade, meu coração cria cisma, se protege do que julga ser a morte do mistério, as noites estreladas, o luar que encanta na madrugada, a explosão do grito na poesia acabada. Vejo-me perdido nas minhas próprias interrogações e se não posso explicar a minha dor, posso criar minha resistência a uma paixão que não me cria versos.

Jose Carlos Cavalcante
Enviado por Jose Carlos Cavalcante em 02/05/2006
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