FOREVER

Há palavras que ficam para sempre. Mas há também fatos que nos acompanham e nos acompanharão forever. Deixei que os pensamentos passassem - desde que nasci até os dias de hoje - como um filme, selecionando aqueles que nunca me abandonaram.

Devia ter dois ou três anos no colo de minha mãe e uma benzedeira, batendo-me, de mansinho, com ramos bentos e água salgada. Tentava livrar-me do vento virado e mau olhado.

Aos cinco anos a descoberta do sexo e a primeira comunhão para livrar-me do pecado. A grande experiência de sentir Deus no coração. Lembro-me, emocionada, esse momento!

Aos seis, sete anos a grande sensibilidade de um pai, levando-me com meu irmão e uma cachorrinha, caminhando por trilhas entre névoas da madrugada, para assistir ao nascer do sol. – “Coisa maravilhosa”! Dizia ele. Ainda com meu pai, viajando para Belo Horizonte, onde faria compras para sua casa comercial. Lá, amigos nos convidaram para assistir ao “Corso”, carnaval na Avenida Afonso Pena. Em carro aberto, um carro atrás do outro, muito confete, serpentinas, lança-perfume e todos cantando: - “O pierrot apaixonado, que vivia só cantando, por causa de uma colombina, acabou chorando, acabou chorando”...

O cheiro do algodão doce! Já casada, com filhos, passeando no Ibirapuera, em São Paulo, senti um cheiro que mexeu, terrivelmente, comigo! – “Marido, que cheiro é esse?! Comecei a procurar! Aquele perfume me trazia recordações profundas que eu não conseguia identificar. Até que vejo uma carrocinha e uma coisa branca, fluida… levou-me a infância. Passara anos sem ver algodão doce e aquele cheiro, aquele momento forte levou-me ao sonho, ao paraíso onde uma menina comia uma nuvem branca, fazendo-a sentir no paladar um gosto, e no olfato um cheiro que jamais esqueceu.

O primeiro namorado ninguém esquece. O primeiro sonho de amor, o primeiro beijo, a primeira vez no avião e a primeira vista para mar. Andei de avião e vi o mar depois dos vinte anos. Foi inesquecível!

Andar de canoa no rio São Francisco, pegando peixes com anzóis de espera nas barrancas, foi um passeio que ficou no coração.

Andar de canoa com remos, numa lagoa cheia de coqueiros, vendo na água transparente peixes e algas, jamais pude esquecer.

A descoberta no olhar do homem amado, a certeza de um amor verdadeiro, de um companheiro de vida - também marcou.

A perda de um filho de quatro meses, já ensaiando sorrisos, nunca será esquecida.

Todavia, o nascimento do primeiro filho é algo incomparável. A experiência de guarda e sentir dentro do seu corpo um ser, ali depositado por um ato de amor é algo que nos faz sentir criadores, por que não divinos. Aos poucos vai crescendo, mexendo... A expectativa de como será... com quem vai parecer... como será seu nome? E, quando a enfermeira chega e lhe mostra (é meu, eu e meu marido o fizemos...), é algo que marca para sempre, forever.

PARA SEMPRE

Um tempo roubado

Um sonho desfeito

O amor encantado

Do príncipe perfeito

Os fatos sempre alternam

No borbulhar desta vida

Alguns tristes só infernam

Alegres contra partida

Assim no viver

Só basta querer

O que vai ser:

Feliz ou infeliz

Para sempre.

Quem decide é você

Sabedoria alguém diz

Ajuda-lhe a escolher.

Maria Eneida
Enviado por Maria Eneida em 17/03/2009
Código do texto: T1490496
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