Um passeio
Um passeio diferente – só um passeio invulgar – bastaria para que aquela tarde não tivesse sido tão terrível na história do mês de julho de dois mil e três. Sonhava passear, sair pelos mares do nordeste, conhecer as dunas de areia de onde se jogam os amantes em declive acentuado rumo à felicidade.
Como queria estar na proa de uma jangada , contemplando a boa onda que lava os pés,sem apresentar a conta do serviço.
Desejava tão intensamente percorrer as ruas da cidade velha do Recife, os antigos casarios, os prédios históricos de Olinda. Em sonhos deslizar nos tobogãs de água de Fortaleza, ir de encontro com a brisa morena de Iracema.
Mas alguém , de divina casta superior , queria que o mês de julho fosse marcado no calendário em letras vermelhas só para outros e não houve passeio algum. Houve, sim, muito frio , vento gelado , que precedeu a histórica geada que inaugurou o dia seguinte.
A fina camada de gelo acordou um ser frustrado, com a alma tremendo de frio ... que se lavou rapidamente, qual vento aragano , escovou os dentes em velocidade alucinante e bateu um café forte, suficientemente quente para disfarçar a tremedeira e sair rua afora, para um passeio , mais um dos tantos passeios que se renovam na rotina da vida, no capítulo de julho, do ano de dois mil e três ...