Minha luz é guardada em uma caixa de sapatos – tem matizes temperados, furta-cor.
Coloquei-me em forma de estrela, dentro daquele papelão frio... Todos os dias, meu amado chegava, olhava por uma pequena fresta, para ver se ainda eu reluzia. Afagava meus cabelos azuis. Saciava minha fome,
Lambendo meus lábios secos.
Sussurrava sorrisos e um lindo cantar.
O tempo passava sem vacilar. Escorregadio.
Eu, sendo estrela, continuava com medo de brilhar de amor.
Temia lhe cegar;  enjoando com o meu cansado
esperar. Presa numa caixa de sapatos!
Só para sentir o cheiro do asfalto; tuas idas e vindas. Da tua vida sem a minha.
Que vontade sentia de perambular contigo!
Mas, assim como companhia, não te servia; o importante era brilhar, cintilar até o esmorecer do dia... E tudo se repetia:
-Abra a caixa, meu amor - pedia.
Deixa que eu me transporte, já que o meu brilho difuso, já anoitecia.
Que surpresa!
De repente, a caixa de sapatos se abria... Meu amado cansado de não viver procurando sua estrela-guia, contentou-se, e veio juntar-se comigo. Pura magia...
Formamos um grande cometa escorregando pela calda brilhante. Executando os lindos sonhos dos amantes. 
Nos transformamos num único pedido: água no semblante do céu.
Nadando, nadando...



Verônica Aroucha
Enviado por Verônica Aroucha em 01/05/2006
Código do texto: T148700
Copyright © 2006. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.