Alma sintética

I

Uma alma que jaz ainda viva,

Num espaço e num tempo que perdeu

Que perdura na cova da saudade

À procurar um bem que a vida não lhe deu.

Uma alma que ainda vive a carne

E os ossos no ócio esqueceu

Uma alma que sofre a desventura

Uma agrura de um sonho que era seu.

Esta alma que fala das alturas

Com candura a ternura ofereceu.

II

Uma alma feliz por seu destino

Consumada de vida e de prazer

Minha alma ainda está ativa

Porque a ti a alma concedeu.

Tua alma jamais rimou com calma

Teu espírito ativo sempre está

Produzindo um verso sem conexo

Para as almas que só sabem rimar.

É loucura viver com tu vives

Numa prosa, num constante delirar

Foste alto demais agora chega

Pra sair de onde estás só se voar.

Mas um corpo pesado não flutua

Há a lei da gravidade a respeitar

Permanece aí no topo por um tempo

Sem alento a contento do esperar.

Que outra alma sintética como a tua

Sobre a lua resolva te buscar

Por enquanto respiras o ar gelado

Da montanha que teu ego erigiu

Não descuida-te dos ventos traiçoeiros

És o único que ainda não caiu.

III

Uma alma insepulta cheira mal

Cá embaixo não há lugar pra ti

Onde as almas rastejam sobre o caos

Como sorte pede a morte pra subir.

Em qualquer canto que haja a vida

Concebida por lógica ou por prazer

Logo cansa de ser apenas vida

Constrangida não pediu para nascer.

Mas se nasce com uma força viva

Esforça-se para nunca perecer.

Evan do Carmo
Enviado por Evan do Carmo em 14/03/2009
Código do texto: T1485450