A colecionadora
Certa vez, minha filha confidenciou-me que seu professor de inglês lhe havia dito que era normal as pessoas colecionarem coisas até os vinte e um anos de idade, e, que depois disto, eram pessoas débeis mentais. Ela não hesitou em defender suas idéias e lhe respondeu:- "Minha mãe é uma colecionadora e é supernormal!". Ele reafirmou sua posição e perguntou sobre o que sua mãe colecionava. Ela prontamente:- "Caixinhas de porcelana". Ele não titubeou, e, ironizando, lançou-lhe:- "Provavelmente caixinhas de 1,99..." No que ela revidou: - "Não, são caixinhas lindas e inglesas, mas para ela, não importa o preço. Minha mãe aprecia a arte, e elas contêm história, são réplicas de museus. E o dinheiro é dela, portanto, ela gasta como quiser".
Fiquei muito preocupada. Minha filha não poderia responder assim a um professor. Haverá ela já passado na sua matéria?
Foi meu primeiro pensamento...
Jamais poderia imaginar que minha filha, uma adolescente, me conhecesse tão bem! Na verdade, estas caixinhas belas, delicadas e muito bem trabalhadas, não servem apenas para adornar e decorar aparadores e cristaleiras reconta a nossa história.
A paixão por coleções é antiga, Frederico II, O Grande, rei da Prússia em 1740, reuniu mais de 1.500 tabaqueiras de ouro, prata e inclusive porcelana de meissen. Com o passar do tempo, a diversidade de uso das caixinhas e os múltiplos materiais empregados na sua fabricação permitiram não só aos membros das monarquias européias coleciona-las. A paixão por estes pequenos objetos contagiou também a burguesia. Suas variadas formas permitem guardar uma infinidade de coisas como alfinetes, agulhas, comprimidos, jóias, pó-de-arroz, tabacos, cartões, biscoitos, bombons, etc.
As coleções sejam quais for sua utilidade, não só enriquecem a decoração de nossas casas como nos fazem conhecer a história através dos séculos... Não importa se os objetos sejam feitos com materiais preciosos ou modestos. Eles remontam à cultura de nossos antepassados, e, principalmente, exibem a elaboração cuidadosa de artesãos ao transformá-los em verdadeiras obras de arte. Acredito que a principal intenção de quem coleciona algo é a de obter conhecimento sobre a história e sua evolução através dos tempos. E, não concordo, assim como minha filha, com seu professor. Não somos pessoas deficientes mentais, somos normais, apenas temos sede de conhecer, admirar e valorizar a ARTE, seja pelo seu formato, função, movimentos artísticos - mais recentes - como o modernismo ou art. déco.
Se tivesse tempo, ficaria aqui escrevendo sobre coleções até a eternidade, pois, além das caixinhas de porcelana, coleciono moedas e outras coisas inusitadas, e, pelo que me julgam, não devo descrever... Risos. Se isto é ser débil mental, não me preocupo: Estou assimilando cultura, o que nunca seria demais. Quanto mais articulamos nossos neurônios evitamos possíveis doenças futuras relacionadas, justamente, com nosso cérebro.
PS.: O cérebro possui dois hemisférios. Por que usar apenas um? O direito, nós o desenvolvemos no nosso cotidiano. O esquerdo deve ser exercitado para descobrirmos quão imenso é o universo escondido que ali está. Principalmente a capacidade do progresso da arte em geral. Freud, provavelmente, não conhecia tão bem a "verdade da alma". Estudou várias fases de nossa psique. É um fato. Então, por que mesmo sem saber repetimos frases ou chavões como: "Nem Freud explica!". Talvez nem mesmo ele o conhecesse...
Dedico esta página do meu diário
à minha filha Gaby, para que nunca esqueça
seus valores, sua cultura, suas raízes.
Eles provavelmente remontarão à sua passagem
e à sua existência, e, transmiti-las-ão às suas
futuras gerações.