SONHO SILVESTRE DE AMOR
 
Rosangela,
 
Ao som de uma música indígena (Suíte dos Índios) e, através dessa orquestra aborígine e bucólica, nesse momento, eu passo a te escrever com a mesma admiração que tinham os meus antepassados pelas suas mulheres.
Considerando-me geneticamente já muito distante, ainda sinto o cheiro da fumaça na escura oca, acompanhado de um arrepio inexplicável que as almas dos meus antepassados guerreiros ainda conseguem me provocar.
E assim, nostálgico e pleno dos sentimentos nativos que a minha origem delegou, eu chego até a ti com o meu coração verde de sentimentos, evidentemente, com certo padecimento por estares, por enquanto, longe da minha aldeia.
Eu te confesso que não sei mais construir uma oca, entretanto, com as 66 taboas que acumulei na minha vida, ainda posso e devo construir uma singela choupana para que tu possas, um dia, descansar os teus lindos e meigos olhos.
Assim que eu concluir essa primitiva e encantadora empreitada, eu te convidarei para, de mãos dadas, passearmos perdidos pelas praias, onde os estrondos das ondas abafarão e esconderão dos pobres mortais, os nossos beijos quentes e promissores.
Eu prometerei te alimentar com os plânctons de amor da minha alma e, quando quisermos e se for possível, nos saciaremos com as lindas algas íntimas do teu corpo.
Pois agora, eu sinto que de mansinho vai nascendo algo espetacular em nossas almas, assim como nascem as verdes heras em muros velhos.
Eu quero, eu desejo me compactar a ti, assim como a argila ao solo, ou melhor, eu desejo me envolver contigo, assim como o perfume envolve a sua flor.
Por teres me pedido muitos e-mails, eu te prometo uma tempestade deles, todos com rosas silvestres levadas pelos ventos e embaladas pela Suíte dos Índios.
 

Eráclito Alírio da silveira
Enviado por Eráclito Alírio da silveira em 11/03/2009
Código do texto: T1481559