Partida
Em breve partiremos
para um destino sem par.
Não deixaremos pegadas
e não levaremos muitos fardos.
Guiados por mãos invisíveis
chegaremos a um lugar
onde nenhum homem
jamais colocou os seus pés.
Onde não existe a maldade
nem a falsidade e a hipocrisia.
Lá, as montanhas não tem nome
e a água corre
despreocupada e cristalina
por entre as suas encostas.
Nesse lugar, há paz verdadeira
e os seres que lá habitam
desconhecem o medo.
O vento entoa melodias
que não existem em outras paragens;
a chuva é perfumada
e o ar fino e puro.
Correremos nus e livres
pelos arrozais nativos do vale
pois o sol é suave à pele.
A noite, cálida e reconfortante
tem como únicas luzes
as estrelas, a lua e os vagalumes.
Faremos amor sem hora nem lugar
e trabalharemos contentes
pelo mínimo para viver,
em harmonia com o ritmo da natureza.
A vida assim é digna de ser vivida.
Com o tempo, outros virão,
órfãos das urbes,
que também receberam
o mapa do tesouro.
O que havia sido feito
por mãos humanas, pereceu.
E assim o mundo será reconstruido
pelas novas gerações.
Brasília, 30 de abril de 2006