A outra face da realidade

Será que você me ouve? Sei que não me enxerga, mas tenho esperança que me escute.

Eu venho implorando pela sua misera atenção e você não tem me escutado para nada, eu estava muito mau e queria seus conselhos, mas nunca me deu um sequer, então eu criei a nova arte, ela é minha amiga e quando eu fico com ela me sinto bem, vi nas curvas da dor uma nova temática para sonhar e viver, um novo caminho se abriu e parei de escutar você, irônico, mas você começou a falar comigo, será por quê?

Por que eu criei algo para mim? Por que parei de mendigar a sua atenção? Talvez isto esteja te incomodando tanto! Mas eu não posso fazer nada esta coisa que criei é só para mim e não inclui você, agora sou eu que não posso dar minha atenção, quantas noites eu esperei por você, gritei e me chamava de louco, louco eu era não? Talvez louco eu seja, quando a razão não foi aceita para você apelei para a loucura e veja só eu me apaixonei, me apaixonei em ser louco, em estar com minha nova arte.

O que mais gosto na vida é que o tempo passa e quanto mais passa menos tempo tenho para ficar com você, pena que de mim, você e eu estávamos dividindo uma cela, já era difícil a convivência quando ainda tínhamos o mundo, mas você nos colocou aqui, eu realmente tinha esperança que você ficasse com a boca quieta, eu era sempre tão cuidadoso, eu sempre deixava um sorriso no rosto das pessoas, mas você não se contentou e nos prendeu, no fundo é até engraçado, você veio preso como cúmplice, do que adiantou abriu a boca? Se ela estivesse fechada estaríamos os dois livres, mas a inveja não deixou não se conformou em ser trocado e contou tudo, agora somos eu e você os vilões desta história, história tão irônica.

E ai? Os tiras falaram para você vestir branco? Mas você esta ridículo, ainda bem que eu só ando de preto, ah não vem em falar que estou doido, você sabe que sou amante da loucura. Trocando de assunto com vai escapar deste lugar em? Eu posso ficar aqui a minha arte me mantém, eu posso viver a vida toda aqui lembrando dos sorrisos que coloquei nos rostos das pessoas, elas ficaram gratas, mas você não fez nada, a não ser delatar a forma como fiz isto. Você me entristece, eu ligava, levava muito á serio quando não me escutava, quando me excluía, quando fingia que eu não existia e dava atenção àquelas pessoas lá que tem diploma e dizem o que você quer ouvir você deixou dizerem que eu era o errado, me deixou dormir por um bom tempo dopado, mas do que adiantou, se eu e você somos um? Somos mais do que irmãos gêmeos, a nossa ligação é mais que carnal e você sempre me machucou, desde criança é assim, quando os malditos psicólogos davam seus estúpidos conselhos e nossos pais ficam loucos, do que adiantou tanta terapia? Olha para você está tão encrencado quanto eu, tão deprimente quanto a mim! Você acha que foi fácil ser negligenciado por toda vida? Por você e pelos nossos pais? Ninguém perguntou como eu me sentia, mas pararam para me notar quando viram a minha arte, eu só queria colocar um sorriso nos rostos daqueles infelizes como eu, eu queria ser o salvador deles, queria que tivessem um rumo diferente ao meu, do que se permitir ao poucos se alienarem como veio acontecendo comigo, é preferível á morte a alienação, eu sempre fui embaixador desta causa e por tanto quis proporcionar aos meus irmãos cidadãos um rumo diferente do meu, oras eu não tive escolha, mas eles tiveram.

No fundo eu gosto muito de você, você tem estado comigo anos, o sangue nos prendeu e ele nos une, tudo o que aconteceu foi reflexo de uma criança sozinha, tudo porque eu sempre quis ser ouvido, eu sempre tive esta necessidade, será por que? Por que desde pequeno nunca me escutaram, e eu não era mudo.

O que custava me emprestar a sua boca, e a sua fala? Eu sempre aceitei dividir o mesmo corpo, acredite irmão, eu coloquei no rosto daquelas pessoas um sorriso, como quem humildemente se despede da vida e corteja a morte, elas eram alienadas, mulheres com depressão, garotos viciados, homem que perderam a alegria de se estar vivo, eu tive o cuidado de fazer-las dormir, e quando elas dormiam eu riscava suavemente em seus rostos um sorriso e você diz que os mutilei, eu não, aquilo era arte, todos os corpos precisavam ser salvos da alienação, da sua dor e a todos perguntei se queriam alivio, todos sem exceção disseram que sim, então eu sou um monstro? Diz para mim? Elas não morreram com um sorriso no rosto? Se tiverem um sorriso no rosto elas não eram felizes? Eu só queria amenizar as suas dores e quando fazia isto amenizava a minha, era a arte eu crie para mim e para meus irmãos de tristeza, eu era seu salvador, mas os tiras dizem também que sou um monstro.

Foi um monstro quem disse para nossos pais que você tinha dupla personalidade, que se eu fosse ignorado ficaria quieto e que um dia eu ia sumir. Só que existia um monstro ainda maior que nunca me deixava falar, que nunca me deixou sorrir e que durante toda a vida e o resto que dela tenho, viverá comigo, você. Entenda, não existe o que os médicos chamam de dupla personalidade, o que existe são duas almas dividindo um mesmo corpo, então nunca mais diga para me calar, ou terei que fazer a minha nova arte com você.

Jennifer Alves
Enviado por Jennifer Alves em 09/03/2009
Reeditado em 09/03/2009
Código do texto: T1477292
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