Do tempo, do Sorrir, de Meu Pai
eu salvaria o fogo do meu silêncio
constante
do meu desejo inquieto
que solicita a diferença
para poder ser aquilo que não sei
ainda.
Somente quando o homem de barro
desperta
a bailarina se atreve a dançar
seus passos mais belos.
( a dança da memória)
À beira de completar anos
descobri o sorriso do meu pai
por força de um acaso
(só quando nos temos mortos
é que o sorriso nos chega desta forma
talvez, verdadeira...)
O homem que já se foi
é aquele que me revela o efêmero do meu sofrimento
e a distância do não poder tocar
é que me apresenta nuances novas
de mim
através de um sorriso instantâneo
impresso em imagem despretensiosa
uma forma de sorrir que adquiro
vivendo, aniversariando,
e que me dou conta
só agora
olhando para teu sorriso distante
perdido no tempo de um papel fotográfico
envelhecido
como nós....
sem ti.
Ele não estava lá
nem eu
i`m not there, Bob Dylan
benevolência cedida através de uma certa dor.
Minha dor de não estar
de viver estando
sendo tantas para tantos
todavia sempre buscando a unidade perdida.
A diferença do sorriso do meu pai
àquela época
está na minha face
hoje
à busca pela poesia que sobrevôa
sôfrega
nos vazios do tempo nu,
tempo sincero e exposto
às deformações das areias que vagueiam
nos desertos de nós.
Faço anos, pai.
Mal sei o que é o tempo
todavia, meu sorriso
vai se transformando em ampuletas que me dizem
mais de ti
de mim
de nossa actual relação.
A mulher deixa seu véu e comemora
sozinha
novos passos
nesta terra árida
A quem pertence aquilo que me vem????