[A Frágil Espessura do teu Sonho]

Presto atenção, paro, considero...

Vejo a infestação da vida marrom,

As pessoas nas mesas dos bares,

Ao volante dos seus carros,

Vegetando em casamentos errados,

Cumprindo pena em carreiras equivocadas,

Vivendo sonhos trocados no balcão das banalidades...

Gentes exercendo a sua humanidade chinfrim,

Buscando a eternamente impossível presença a si,

Na angustiosa fuga da finitude do ser;

A vida, essa impostura, essa brincadeira

De ser "quem a gente nunca pode ser",

Vendendo-se sempre mais caro do que se vale...

Meus olhos me desapontam, desguiam,

Criam um desespaço na minha mente,

Fazem do mundo matéria do absurdo;

A vida, esse vintém sem valor rolando

Pelas ladeiras do esquecimento dos sentidos!

De mim, sei bem: jamais apalpo a espessura do real,

Não sei a que vim, e não tenho missão alguma

Senão existir na duração que me escapa!

[Em teu mundo, sou uma contingência evanescente,

Tenho apenas a frágil espessura de teu sonho;

Desafio a tua coragem: amas-me mesmo assim?]

[Penas do Desterro, 08 de março de 2009]