DIÁRIO ABERTO - Vultos do além
Era um ir e vir apressado, passos embrutecidos ecoam no assoalho, ao olhar para cima o lustre parecia balançar e ciscos de poeira caiam pela sala. Só faltava o piso desmoronar e cair sobre as mentes inquietas estateladas ali na pequena sala quatro.
Minha cabeça dói, diz uma das mulheres levando a mão à cabeça.
Somos loucos? Inadaga uma das Histéricas.
Somos, responde um dos homens da sala, mas aqui não tem choquinho, diz a senhora traumatizada pelas várias internações que sofreu ao longo da vida... Eu sorrio, balanço a cabeça e sorrio mais um pouco.
Ela levanta de sua cadeira e vem em minha direção, olha no fundo do meu olho e diz:- Vou falar para meu marido comprar shampoo para mim, e uma pipoca. Eu digo:-É eu te dei uma pipoca outro dia, você lembrou.
Neste momento todos sorriem.
Um deles diz; o mal me puxa, outro consente e todos concordam, o mal existe em cada mente.
Eu apenas escuto, intervenho pouco, é um dia onde as mentes brilham e projetam de forma espetacular, existe um clima propício, uma união e respeito entre todos. Sorrimos de nossos limites e rótulos impostos pela sociedade.
Não vou mais brigar com minha mãe, diz a moça banguela de batom vermelho, eu a olho, ela sorri, estou feliz com a alta de três dias, não vejo mais vultos não.
Eu vejo, diz o senhor M., eu também diz a senhora T. e as vozes ecoam pela sala. Escuto vozes, diz a senhora J, escuto me chamarem no portão vou lá e não tem ninguém, as vezes no quarto.
Vejo vultos negros diz o L.
Senhora B pergunta, você acha que um dia eu tenho alta como a Gi?
- Sim terá, respondo.
Olho pela fresta da janela, os raios de sol caem na tarde quente, o céu lança uma reflexão e penso na Justiça Divina, lembro as palavras do Mestre e sei que um dia "ISTO TAMBÉM PASSARÁ"!
Olho no relógio, é hora do lanche, peço que todos se levantem e lavem as mãos, vamos tomar um chá refrescante e comer bolachas crocantes.
Alguém levanta e diz: - Segunda eu trago o violão.
Sempre resta uma esperança!