O paraíso que eu quero

O paraíso que eu quero

Não é aquele lugar de misticismo e almas raras

É feito de um pedaço da memória

E veias que abraçam o coração

É feito das coisas que amei

Do que eu segurei em minhas mãos

Daquilo que eu conheço, e ao meu abraço

Faz rir ou faz chorar

O paraíso que eu quero tem o silêncio das rolinhas

E o canto dos Jequitibás soletrando o vento

Tem a vitalidade dos bagres

E a humildade das baleias

Ainda o marimbondo de cócoras

E abelhas sorrindo

O paraíso que eu quero

É cheio de moças e aventais

E quando chegar a primavera

Os rapazes tecerão suas guirlandas

E todos rodopiarão na embriaguês das flores

O paraíso que eu quero

Não tem luxo e nem pobreza

O espírito a tudo conduz

Com ares de nobreza

O paraíso que eu quero

Há de ter um pouco de tristeza e agonia

Eu preciso confessar meus pecados

E celebrar uma poesia

O paraíso que eu quero tem cheiro de mulher grávida

Olhos de mulher grávida, passos de mulher grávida

É grávido e eternamente grávido

Germinando as coisas sagradas

O paraíso que eu quero é feito de gente

Gente, multiplicada por gente

Tocadores de flautas e batuqueiros

Em busca de eterna harmonia

Aos olhos atentos de Deus.