A pena
Esta manhã, estava no jardim quando um passarinho saiu voando de um galho de ipê.
E uma pena amarela saiu dele.
Tão leve.
Tão suave caía.
Lentamente. Como se o ar fosse barreira difícil de vencer.
Vinha tão vagarosa, ondeando para lá e para cá.
Ora ou outra, o sol refletia em seu amarelo e a pena teve sua vez de lua.
De repente, o vento soprou e a pena fez acrobacias no ar.
Pequena canoa amarela que levava meu pensamento.
Brincava com meu sentimento.
E ela veio até mim.
De tão longe ela partiu, de forma inesperada surgiu.
Viu-me (ou talvez não) e veio para mim.
Ainda lenta, lânguida.
Mas não a segurei.
Não interrompi seu trajeto, não quis mudar sua vida.
"Quem ama não é inconveniente", pensei.
A pena passou por mim, tocou meu rosto.
Não me havia outro mundo, só a pena amarela.
E a, agora, pequena distância até o solo fez-se enorme.
Pareciam horas em léguas.
A pena até mais suave caiu.
Vai...vai...vai...
E tocou o chão...
...então lembrei de você.