O testamento de Wilhemm Wagner

No meu testamento

Eu quero assim...

Primeiro o nome,

O meu nome!

O nome é a chave

Primordial do infinito.

– Wilhemm Wagner –

...No cume

Esquerdo do papel!

A seguir...

O título!

Abaixo do nome:

– O testamento de Wilhemm Wagner –

[Como forma impertinente da vida após a morte.]

Posteriormente os versos...

Pedidos, desejos,

Apelos e pertences...

Pertences de valor!

[...] Valor?

Mas, leitor...

Não tenho eu nada que me valha

O tanto quanto o valor de mim mesmo...

Posso deixar?...

A mim mesmo?

Não! Não!

Vou está morto...

Morto não serve!...

Pelo menos a matéria.

Então, o que deixo?...

Sim! Sim!

Estás completamente certo!

Então deixarei

Para os meus herdeiros...

Dois livros e uma frase

[Frase que muito estimo.]

[...] Sei que queres saber!

Não agüentas mistérios

Não é?

Pois não lhe vou dizer!...

Agora não!

Deixe de ser inquieto e ansioso!

Tudo tem sua hora...

Tudo tem seu tempo!

E o meu tempo...

Ainda não cessou!

Começarei então o meu testamento,

Do qual a minha existência

Após a morte, depende inteiramente dele...

E assim eu desejo:

Primeiro – no dia da minha morte

Quero que todos os meus amigos

E até colegas prestigie-me.

[Mas, não controlo os desejos alheios?]

Eles tanto poderão ir,

Como não irem!...

[Dependerá de suas vontades e desejos.]

Seus desejos são incontroláveis!

...Pois bem!

Então vamos para o segundo desejo!

Segundo – gostaria que lembrassem

Os dias de gozos

Que tiveram comigo...

E não chorassem!

[Não chorar, creio que é ser pedir muito.]

Porém,

Lembrem que nós rimos muitas vezes,

Que somos todos eternos!...

Que nossas matérias

Sumirão,

E que no entanto,

Nós sempre estaremos vivos

Nas mentes futuras.

Lembrem-se vós que somos todos deuses,

Que decidimos nossas atitudes,

Que construímos tudo...

E todos!

[...]

Todavia, pedirei para tocarem

Um jazz-blues.

Ficaria demasiado contente

Que no dia de meu velamento

Dançassem e cantassem

Para prestigiar-me.

Seguido da chuva Machadiana...

E no percurso fúnebre

Da despedida...

As lágrimas entorpecidas de saudades

E lembranças perpétuas!

Ah!... Quereria muito

Que vós vivêsseis!...

Que vós aproveitastes!...

Que vós morrêsseis em águas claras

De velhice e sem dor.

Pois a vida – coisa estranha

Que ninguém desvenda –

Passa-se em segundos...

Minuciosos!

Porém,

Um segundo

Para um bom aprendiz...

Dura uma eternidade!

[...] E o terceiro e último...

É que não sei se dá azar

Ou não,

Fazer mais de três pedidos...

O que?...

Somos superstições

Também!

Uma vez que em vários anos

Da vida – a qual participei

Ativamente um longo período

De existência –

Vi o tempo como

Infinidade!

– O tempo infindável –

E as mãos como papéis

E letras...

A indagação e o exorcismo!

Percebi,

Em todos esses anos de vida,

Que essa mesma vida,

É constituída

De alguns elementos

Complexos e paradoxais,

E que nossas existências fornece

Para nossas mentes

Apenas uma produção

Do imaginário invento... Surreal!

Que somos belos e tudo

E todas as coisas possuem

Estabilidades.

[...] E que agora tudo é bonito

Demais para nós.

E que tudo agora

É seguro demais para existir.

[...]

Deixarei:

Memórias póstumas

de Brás Cubas

E antologia poética de

Mario Quintana.

E a frase?...

Resolvi não deixar,

Pois a encontrarás em

Becos e vielas

Da vida.

"Para alguém que ler e gostar,

Pois não tenho a quem deixar.

Não tenho herdeiros,

Amigos e nem lar!"

Grégori Augustus Reis
Enviado por Grégori Augustus Reis em 04/03/2009
Reeditado em 10/06/2009
Código do texto: T1468940
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