A DAMA SOLIDÃO
Sarandeia o capeta no céu claro da piscina. Colhe-se matéria-prima para o texto. Mergulha-se na dolência da tarde, chapéus de sol e óculos escuros. Olores são vários: óleos de proteção da pele, cozinha picante.
Cochichos aos telefones. Impressões. Soluços, fúrias, afetos. Desliza sobre a pele a erótica fricção. Sorve-se água-de-coco. O beijo estala na ponta do canudinho.
Ou fosse cerveja, uísque, vinho suave haurido em seios tesos, túrgidos. Sotaques nordestinos açulam a parte que não pensa.
O olhar crítico instala-se no observador: a estátua de Rodin perscrutando o ócio. O pensar curto, indolente. Espicha-se o desejo num aceno de véspera.
Dorme a ama das ausências. Luze num silêncio de pedra.
– Do LIVRO DOS AFETOS, 2005/2009.
http://www.recantodasletras.com.br/prosapoetica/146443