Tormentas

Tormentas

Vanderli Granatto

De vez em quando o riso solto, escachado,

mostra liberalidade das amarras, da vida que de vida nada entende,

neste emaranhado de tormentas,

que atormenta, que nos deixa ofegantes e não nos alimenta,

na expectativa de vida, de dias melhores,

que deveriamos ter.

Pelo riso aparente, ninguém percebe a tristeza do coração magoado,

quietinho chorando pelas desilusões.

O olhar é embaçado pelas lágrimas que saem incontidas.

O riso não é alegria, apenas esconderijo da nostalgia.

Disfarçar é fácil enquanto muitos de olhos vendados,

não enxergam a realidade.

Não me enxergo, me perco neste mundo de enganações.

Me ignoram, ignoro as ilusões.

Antes tão cheia de vida, no vapor da euforia

cantava a pureza, a ousadia, a vontade de viver.

Enquanto as estrelas cintilavam,

meu diamante era polido com convicção.

Pra onde foram as convicções?

Pra onde foi a doce vida em versos cantada,

estimulada e esperada?

Hoje choro, outros choram, destruiram,

destroem o mundo com enganações, desavenças,

ganâncias exacerbadas, inusitadas situações.

O ilimitado ganhou força, desarticulou-se a fé.

Sem crença, sem rédeas sérias, o mundo entra em erupção.

Expectativas de dias melhores caem por terra,

a cada instante vivido.

A tristeza em mim, em muitos, aflora.

O riso solto, nas horas de descontração,

escondem o verdadeiro sentido do que se é vivido.

Sai, flui para dar vazão a emoção retida.

Pra onde foram as ilusões?

Um dia acreditei num mundo melhor, acreditei no ser, na evolução.

Agora a tristeza aflora em meu rosto, em outros.

Poucos risos, poucas alegrias, blocos de alegorias nas ruas,

entoam o hino das desilusões.

Ninguém quer mais fazer versos pra lua.

O encanto diluiu-se, extinguiu-se

pela triste realidade do mundo,

apagou-se a luz da pureza.

A descontração, o relaxamento,

hoje se ganha não através do riso puro, leve e sim dos ansiolíticos,

provocando um sono profundo, acalmando a ansiedade, a angústia.

Matou-se a pureza da alma, desconsolou-se a esperança.

Tornaram-se impuros os corações pelo caminhar inseguro, pela desorganização.

A raiva permanece pois parece que a vida que deveria ser e ter prioridade,

virou chacota nas mãos de incautos,

nas mãos de quem deveria zelar pela honra, pela dignidade e respeito,

desilusão ainda é promessa de um breve futuro.

De vez em quando o riso solto, escachado,

mostra liberalidade das amarras da vida,

que de vida nada entende, neste emaranhado de tormentas,

que atormenta, que nos deixa ofegantes e não nos alimenta,

na expectativa de vida, de dias melhores, que deveriamos ter...

Vanderli

22/02/2009

Botucatu/SP